CONTROVÉRSIAParece haver alguma controvérsia entre as recomendações médicas de fotoproteção e o cuidado na manutenção de níveis sanguíneos adequados de Vitamina D. Nos anos 20 do século passado, demonstrou-se que o óleo de fígado de bacalhau apresentava atividade anti-raquitismo graças à presença de uma substância então denominada de vitamina D. Posteriormente, descobriu-se que o organismo humano era capaz de produzir sua própria vitamina D, mas para isso necessitava de exposição à radiação solar. A exposição solar para crianças, idosos e até de pacientes acamados ou debilitados passou a ser uma recomendação médica naquela época. Sabe-se hoje, no entanto, que a vitamina D pode ser sintetizada no organismo humano, mas também pode ser adquirida através da dieta ou suplementação vitamínica. FUNÇÕES E BENEFÍCIOSA principal função da vitamina D está relacionada ao equilíbrio dos níveis de cálcio no sangue que interfere diretamente na formação e manutenção do tecido ósseo. A mais importante consequência da deficiência da vitamina D é o raquitismo (em crianças) e a osteomalácia em adultos. Outros benefícios relacionados à vitamina D, principalmente a redução da mortalidade por cânceres internos, têm sido descritos, mas necessitam de maiores evidências científicas. Alguns estudos sugerem uma relação inversa entre exposição à UVB e mortalidade por diferentes tumores malignos, incluindo os cânceres de intestino, mama e próstata. Como esses dados são observacionais , ainda não é possível afirmar que a exposição ao sol diminui a incidência ou mortalidade por cânceres internos. Em 2008, pesquisadores noruegueses mostraram que a maior incidência (e pior prognóstico) de tumores malignos internos nos países de maior altitude e, portanto, com menor insolação, está relacionada à baixa produção de vitamina D. Embora outros estudos epidemiológicos não tenham confirmado a hipótese da participação da vitamina D na prevenção destes tumores, já é irrefutável a importância da vitamina D para o organismo humano. TIPOS DE CÂNCER DE PELEUm fato animador, sobretudo nos países tropicais, é que o tempo necessário de exposição ao sol para produção de vitamina D é mínimo, cerca de 5 minutos de exposição do corpo inteiro, no horário de maior incidência de UVB, diariamente entre 10h e 15 horas. Além disso, pode-se incrementar os níveis de vitamina D com suplementação oral de vitamina D supervisionada pelo médico responsável e dieta adequada. Por outro lado, a partir da década de 60, com maior intensidade na década de 90, incontáveis trabalhos científicos apontaram a relação direta entre a exposição ao sol e aumento da incidência de câncer cutâneo. Sabe–se que a exposição à radiação ultravioleta natural proveniente do sol está entre os principais fatores de risco do câncer da pele. Os raios ultravioleta são invisíveis, penetram na pele causando danos que são cumulativos – vão se acentuando a cada exposição e continuam fazendo efeito ao longo da vida, podendo provocar danos ao DNA, imunossupressão, alterações químicas e histológicas na epiderme. São três os tipos de câncer da pele mais comuns: O melanoma, o carcinoma basocelular e o carcinoma de células escamosas, estes dois últimos conhecidos como câncer de pele não-melanoma. O aumento na incidência do Melanoma e dos cânceres de pele não-melanoma está diretamente relacionado com a exposição solar mais freqüente. Existem alguns fatores que aumentam a intensidade da radiação ultravioleta, tais como: - Horário: maior entre 10 e 15h; - Estação do ano: verão; - Altitude: maior na montanha; - Localização: maior próximo ao equador (áreas mais quentes). É importante salientar que os dias nublados deixam passar 40 a 80% da radiação ultravioleta e, ainda, que o sol é refletido pela água, areia, neve e outras superfícies (cimento, asfalto), aumentando-se muito o risco de queimadura solar. RECOMENDAÇÕESSabe-se que 50 a 80% da exposição solar ocorre nos primeiros 18 anos de vida. Está muito bem demonstrado que fotoproteção adequada nos primeiros 20 anos de vida previne o câncer de pele não-melanoma em até 85%, é uma boa prevenção contra o envelhecimento da pele e cataratas.
A sociedade brasileira de dermatologia recomenda que a exposição solar deve ser feita de forma cuidadosa e consciente com as seguintes medidas de fotoproteção que são recomendáveis a todos os indivíduos: - Evitar a exposição ao sol entre 10 e 15 horas (no horário de verão, entre 11 e 16 horas); - Utilizar meios de proteção físicos tais como chapéus, camisas, guarda-sol; - Utilizar protetores solares, se possível diariamente, com o fator de proteção solar (FPS) mínimo de 15 e ampla proteção UVA e UVB; - Aplicar o protetor solar cerca de 30 minutos antes do inicio da exposição; - Aplicar o protetor de forma abundante para que ele seja efetivo, cerca de 40 mL para todo o corpo (equivalente a uma pequena xícara de café); - Reaplicar o protetor após 2 horas de exposição ou após imersão em água (especialmente se o protetor solar não for declarado "resistente à água"). Os dermatologistas devem estar sempre atentos aos demais aspectos clínicos relativos ao bem estar geral dos pacientes. Em casos de deficiência de vitamina D, os médicos devem individualizar a proteção solar em cada caso avaliando a necessidade ou não da suplementação de vitamina D oral. Diante das evidências, do conhecimento e com bom senso, imperioso nas boas práticas da medicina, é possível obter o melhor: Fotoproteção adequada e controle dos níveis séricos de vitamina D. Autora: Dra. Jussamara Brito. Comments are closed.
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AUTORADra. Jussamara Brito. Dermatologista, Professora Adj. de Dermatologia da Escola Bahiana de Medicina, Diretora Médica da Pelle Clínica Dermatológica.
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